Corpo e cultura nas aprendizagens das crianças Pataxós

As comunidades indígenas contemporâneas têm vivenciado uma considerável reestruturação de seus tempos, espaços, relações e aprendizagens sociais. Nas palavras de Laraia (2009), as mudanças ocorrem em virtude da dinamicidade da cultura. Esse processo é ressaltado por Gomes e Faria (2005), quando observam que essa mudança contínua da cultura dá-se tanto por motivos internos (a cada geração aspectos tradicionais são modificados e novos são incorporados), quanto por motivos externos, no contato entre diferentes sociedades ou grupos sociais, o que gera uma “troca de elementos” culturais. Essa consideração nos ajuda a desconstruir uma idéia de socialização como um processo linear de transmissão da cultura que tenha um sentido e um fim já estabelecido e conhecido (COHN, 2002).
Nesse contexto, apresentamos um projeto de investigação que propõe um estudo etnográfico no cotidiano das infâncias pataxós buscando compreender como a cultura indígena é propriada pelas crianças, constituindo processos de habilitação (INGOLD, 2000) nas práticas sociais singulares desse contexto. Como assinala Toren (1999, p.8), somos a história de nossas relações com aqueles outros com quem temos encontrado em nossa vida; nascemos dentro de um conjunto de relações com os outros, com as idéias contidas por aqueles outros, nas práticas em que estamos associados, no processo de nos tornarmos quem somos. Compartilhamos, ainda, o entendimento de que são adultos que estruturam as condições nas quais as crianças vivem (TOREN, 1999, p.18). Enfatizamos, com isso, a importância de voltar o nosso olhar para as relações sociais nas quais essas crianças participam, aprofundando o conhecimento a cerca das práticas culturais em que estão envolvidas, direta ou indiretamente. Para tanto, elegemos a teoria postulada por Lave e Wenger (2003) sobre a Aprendizagem Situada e as Comunidades de Prática como ponto de partida para entendermos a constituição da(s) identidade(s) das crianças pataxós. Buscamos, nesse sentido, fortalecer a proposição de realizar um trabalho de campo fundamentado no método etnográfico.