A Construção da Identidade Pataxó

O processo de construção da identidade indígena Pataxó na aldeia Coroa Vermelha, extremo-sul baiano, está inserido em contexto de longo e intenso contato com a população regional, sendo, na atualidade, intersectado pela forte influência do mercado turístico. Este, entrelaçado à prática de “mercantilização de culturas”, exotiza e transforma as mais diversas dimensões da cultura indígena em atrativo central. A busca pelo “índio autêntico”, correspondente a uma série de estereótipos consolidados no imaginário coletivo, representa, assim, importante fator na relação entre índios e não-índios na “Costa do Descobrimento”. As crianças indígenas, por sua vez, desempenham papel fundamental na manutenção da identidade indígena Pataxó, notadamente em sua relação com os distintos segmentos da sociedade regional. Ultrapassando os limites da escola e da família, a sua inserção no mercado artesanal é, ademais de sua importância econômica, de significativa relevância para o seu processo de aprendizado, consolidado enquanto espaço social de reafirmação da identidade étnica. É necessário, pois, tomá-lo como dimensão privilegiada da sociabilidade infantil, complementarmente à escola e à família. Para além da construção de um imaginário “sobre” os povos indígenas, contudo, é Fundamental procurarmos saber como, sob a ótica infantil (constantemente negligenciada pela literatura antropológica), esse imaginário é construído, compreendido e sentido. Mais especificamente, é necessário saber como as crianças Pataxó da Coroa Vermelha apreendem e conferem sentido ao imaginário dos não-índios sobre os índios, e, particularmente, sobre os Pataxó da Coroa Vermelha. De que maneira os diversos estereótipos são por elas apreendidos, e, eventualmente, contrapostos à sua realidade social? Como elas vêem, e concebem, o “’índio”? Enfim, como elas se vêem e se concebem como índios?