Música e Dança Pataxó

Resistência e Expressão Cultural

A música e a dança Pataxó são ferramentas cruciais na afirmação e valorização da cultura Pataxó. Elas são vitais para a manutenção da língua e suas expressões ao longo dos anos, atuando como um forte instrumento de resistência contra as influências impostas pelo contato contínuo com a cultura não indígena.

Com o trabalho de pesquisa realizado pela coordenação Atxôhã, novas músicas surgiram e continuam a surgir, fortalecendo a cultura Pataxó.

Pode-se definir a música e dança Pataxó como um dos principais elementos de construção afirmativa e identidade em um processo contemporâneo da cultura indígena Pataxó.

O Heruê (Awê): Ritual e Tradição

A música e a dança Pataxó fazem parte do Heruê, também conhecido popularmente como Awê: um conceito que representa amor e união espiritual.

O Heruê é uma cultura, uma tradição e um ritual sagrado de imensa importância para o Povo Pataxó. Deve ser cultivado de forma coletiva, pois é considerado a religião ancestral.

A citação de Huizinga (em Homo Ludens), embora não seja Pataxó, contextualiza a profundidade da expressão humana:

“É a linguagem que lhe permite distinguir as coisas, defini-las e constatá-las, em resumo, designá-las e com essa designação elevá-las ao domínio do espírito. Na criação da fala e da linguagem, brincando com essa maravilhosa faculdade de designar, é como se o espírito estivesse constantemente saltando entre a matéria e as coisas pensadas. Por detrás de toda expressão abstrata se oculta uma metáfora, e toda metáfora é jogo de palavras. Assim, ao dar expressão à vida, o homem cria um outro mundo, um mundo poético, ao lado do da natureza.” (HUIZINGA, 2000, p. 7).

A música e a dança Pataxó, ao incorporar a criatividade, novas melodias e formas de movimento, atuam como uma ferramenta de manutenção da língua Patxôhã e de expressão desse mundo poético.

Foto: Hadja

Celebração, Proteção e Identidade

Embora seja comum cantar e dançar em grupo, em roda e em filas, utilizando indumentárias e utensílios tradicionais como: tanga, cocar, maraká, colares e as pinturas corporais (com jenipapo, carvão, barro e urucum), é nas atividades coletivas que esses elementos elevam a autoestima do povo.

Todos os indígenas na aldeia, independentemente de gênero ou idade, podem participar da música e da dança. Há cantos específicos para homens e mulheres, e cantos que são executados juntos. Valorizam-se e utilizam-se as danças tradicionais dos variados ritmos.

As canções, sejam elas entoadas em Patxôhã ou em português, são valorizadas como fonte de grande bravura, resistência e tradição da nação Pataxó, pois demonstram o carinho e o amor pela natureza.

A música e a dança têm um papel multifuncional:

  • Proteção e Cura: Aliviam o corpo, espantam os maus espíritos, deixando o povo protegido.
  • Celebração: Servem para celebrar a vida e a morte, a paz e a guerra, a felicidade e a tragédia.
  • Espiritualidade: São usadas para invocar os espíritos e os antepassados, os espíritos guerreiros, e a força para lutar, reforçando o grande valor do povo e sua cultura.

Cantar e dançar também funcionam como uma forma de terapia e concentração, revelando o estado emocional do ser humano (alegria ou tristeza). Na alegria da dança, desabrocham sentimentos de respeito aos irmãos, à natureza e ao sagrado. A dança, com seus saltos e giros, demonstra que o Povo Pataxó é um povo feliz. Em tempos de luto e tristeza, o ritual promove a reflexão, a partilha da dor, a renovação da fé e a busca do infinito.

Por tudo isso, a música e a dança Pataxó têm despertado o desejo de revitalizar e fortalecer cada vez mais a cultura Pataxó: sua história, a língua Patxôhã e as tradições. Elas se tornaram grandes aliadas na união e na luta pela reconquista do território e dos direitos indígenas.

A música e a dança Pataxó são a expressão de sons e ritos envolventes da cultura de um povo que luta bravamente para não desaparecer. Elas representam a história passada, a luta presente e os sonhos deste povo destemido.

Texto adaptado para o site por Karkaju Pataxó.